_ Um bom charuto e um whisky de qualidade fazem qualquer homem feliz!
A fumaça do Havana 1967 já se espalhava por cima de nossos pratos. O Camarão à Sapiranga, tão famoso e respeitado pelos críticos gastronômicos da cidade, ia esfriando, enquanto Pereira Gusmão falava e expunha toda a sua ignorância disfarçada pelo requinte de suas roupas e trejeitos absorvidos com o contato com pessoas educadas, que só os glutões com rápida ascensão social conseguem ter.
_ Nem mesmo uma mulher pode tirar o prazer de comer, beber e fumar de um homem.
Ao lado de Pereira Gusmão, eu me sentia melhor do que realmente era. Eu achava que se tivesse todo o dinheiro que ele tinha, com certeza aproveitaria melhor e teria mais classe. O terno Armani que vestia, acredito que não foi feito para pessoas gordas como ele. Já vi muitos gordos elegantes e bem vestidos, mas ele não tinha essa característica, apesar de como disse suas roupas terem muito requinte. Outra coisa que me enojava nele era sua careca que não parava de ficar luminosa com o suor insistente, o lenço que usava para se secar com certeza deveria feder. E ah, como eu odiava o jeito que ela falava das mulheres.
_ Mas chega de falarmos de prazeres mundanos, vamos aos negócios.
Enquanto Pereira Gusmão falava, eu comecei a pensar em como cheguei até ali: eu era policial. Nunca fiz nada demais, na verdade não gostava muito do meu trabalho. Para mim o limite entre ser mocinho e bandido sempre foi uma linha muita tênue. O fiel da balança sempre foi a arma, você é reconhecido pelo que faz com ela. E nunca tive muito claro qual a diferença entre o assaltante de esquina e eu. Por isso acho que me desliguei da corporação. Fiquei alguns meses vivendo de biscates, até um conhecido me indicar para um famoso industrial. E o tal industrial me adorou.
O senhor Marco Albuquerque não me admirava por eu ser letrado, ou por ter um tino comercial brilhante. Para ele a característica que eu possuía que mais lhe era útil, era como eu podia sacar rápido uma pistola e dar um tiro certeiro bem no meio da testa de um “porco” descartável que lhe atrapalhava os negócios, e ainda assim sair rapidamente, enquanto as pessoas abismadas olhavam sem entender o que acontecia. Exatamente como fiz no restaurante. Só fiquei triste por não ter comido o camarão, eu estava realmente com fome.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
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