O Mauricio me chamou:
_ Ei você não vem?
Respondi que não. Naquele momento preferia ficar ali no Posto 6. A tarde ensolarada atraiu muita gente pra praia. O mosaico de guarda-sóis e o clima de jovialidade e alegria que emanava servia para me distrair um pouco.
Por mais que o sol me incomodasse tanto a vista quanto a pele, eu não tinha nenhuma intenção de me abrigar longe dele. Eu precisava me punir de alguma forma. E a Aninha não saia da minha cabeça.
Tudo começou na festa na casa do Betinho: muita gente, muita bebida, música boa e eu querendo ir embora logo dali. Estava doente e não podia tomar nada, e quando se tem dezesseis anos, álcool e música são uma combinação mais que necessária para se divertir.
Eu estava na varanda, observando a piscina e a pista de dança, tomando meu refrigerante, quando ela apareceu.
_Mais um privado de goró?
_ É, antibiótico.
_ Gripe?
_ Infecção de garganta (na verdade era infecção urinária, mas nunca contaria isso, ainda mais a ela). Qual o seu problema?
_ Fiz correção do septo nasal faz uma semana, vou ficar um mês sem beber.
Foi nessa hora que olhei para ela. Como era linda. A cirurgia não deixara nenhuma marca. E mesmo que tivesse deixado, aliás, nem sabia se realmente deixava, não mudaria em nada a beleza do seu nariz arrebitado. Nunca tinha visto um nariz tão perfeito quanto o dela.
Continuamos conversando. Descobri que é fã de Cazuza, Creedence, Oasis e ACDC. Achei estranho alguém ser fã de Oasis e ACDC ao mesmo tempo, mas fiquei quieto. Falamos sobre a Madonna no Rio, as Olimpíadas de 2016, o que vai acontecer na novela. E ela decidiu ir embora.
_ Sem Bebida é fogo!
_ Você não vai embora sem me dizer seu nome?
_ Vish, é mesmo. Prazer Aninha.
_ Prazer André.
_ Bom, agente se vê, André.
E ela foi embora. Eu não peguei nenhum contato. O Betinho, o Maurício, ninguém a conhecia. Era uma amiga da prima da vizinha do Betinho.
E lá estava eu, queimando minha molera pra ver se aprendia a deixar de ser estúpido. E se ela for a mulher da minha vida? Posso ter jogado minha felicidade fora. Eu não acredito, merecia torrar naquele sol.
_ Ei você vai pegar uma insolação aí desse jeito.
Era a Vandinha.
Aquele biquíni valorizava os seus já fartos seios. E ela estava diferente: será que tinha feito luzes? Ou cortou três dedos do cabelo? Branqueamento nos dentes?
_ O que faz aí sozinho?
_ Nada, só olhando.
Enquanto admirava o bronze de Vandinha, tentei lembrar o porquê mesmo que estava ali. Não achei uma resposta de bate - pronto. Continuei olhando para os joelhos perfeitos de Vandinha.
_ André, passei o dia inteiro na praia, quero ir pra casa tomar um banho. Você me acompanha?
_ Mas é lógico!
Acabei de chegar em casa, estou todo ardendo. Mas que burrice ficar no sol sem protetor. Fico mais bravo porque não lembro o motivo. Mas deixa pra lá, passo um creme pós-sol e vou ficar pensando em Vandinha.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Sem Paz
_ Aonde está?
_ Julie, fica comigo!
_ Aonde está?
_ Eu não sei! Já falei o que sabia!
_ Não brinque comigo! Aonde está?
_ Julie, vai dar tudo certo!
_ Aonde? Estou perdendo a paciência!
_ Mas que droga! Eu não sei de nada!
_ Então ela morre!
O vento frio da rodoviária me faz acordar do torpor em que me encontrava. O suor frio escorria por minhas têmporas.
Despertei, mas ainda não estava ali. Aliás não encontro um lugar seguro.
O destino tem uma dívida comigo. Mas ainda não tenho condições de cobrá-lo.
E só me resta fugir do passado, mas quanto mais eu corro, mais rápido meus pesadelos me alcançam.
Até quando precisarei me esconder de mim mesmo para encontrar paz?
_ Julie, fica comigo!
_ Aonde está?
_ Eu não sei! Já falei o que sabia!
_ Não brinque comigo! Aonde está?
_ Julie, vai dar tudo certo!
_ Aonde? Estou perdendo a paciência!
_ Mas que droga! Eu não sei de nada!
_ Então ela morre!
O vento frio da rodoviária me faz acordar do torpor em que me encontrava. O suor frio escorria por minhas têmporas.
Despertei, mas ainda não estava ali. Aliás não encontro um lugar seguro.
O destino tem uma dívida comigo. Mas ainda não tenho condições de cobrá-lo.
E só me resta fugir do passado, mas quanto mais eu corro, mais rápido meus pesadelos me alcançam.
Até quando precisarei me esconder de mim mesmo para encontrar paz?
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Grande Habilidade
_ Um bom charuto e um whisky de qualidade fazem qualquer homem feliz!
A fumaça do Havana 1967 já se espalhava por cima de nossos pratos. O Camarão à Sapiranga, tão famoso e respeitado pelos críticos gastronômicos da cidade, ia esfriando, enquanto Pereira Gusmão falava e expunha toda a sua ignorância disfarçada pelo requinte de suas roupas e trejeitos absorvidos com o contato com pessoas educadas, que só os glutões com rápida ascensão social conseguem ter.
_ Nem mesmo uma mulher pode tirar o prazer de comer, beber e fumar de um homem.
Ao lado de Pereira Gusmão, eu me sentia melhor do que realmente era. Eu achava que se tivesse todo o dinheiro que ele tinha, com certeza aproveitaria melhor e teria mais classe. O terno Armani que vestia, acredito que não foi feito para pessoas gordas como ele. Já vi muitos gordos elegantes e bem vestidos, mas ele não tinha essa característica, apesar de como disse suas roupas terem muito requinte. Outra coisa que me enojava nele era sua careca que não parava de ficar luminosa com o suor insistente, o lenço que usava para se secar com certeza deveria feder. E ah, como eu odiava o jeito que ela falava das mulheres.
_ Mas chega de falarmos de prazeres mundanos, vamos aos negócios.
Enquanto Pereira Gusmão falava, eu comecei a pensar em como cheguei até ali: eu era policial. Nunca fiz nada demais, na verdade não gostava muito do meu trabalho. Para mim o limite entre ser mocinho e bandido sempre foi uma linha muita tênue. O fiel da balança sempre foi a arma, você é reconhecido pelo que faz com ela. E nunca tive muito claro qual a diferença entre o assaltante de esquina e eu. Por isso acho que me desliguei da corporação. Fiquei alguns meses vivendo de biscates, até um conhecido me indicar para um famoso industrial. E o tal industrial me adorou.
O senhor Marco Albuquerque não me admirava por eu ser letrado, ou por ter um tino comercial brilhante. Para ele a característica que eu possuía que mais lhe era útil, era como eu podia sacar rápido uma pistola e dar um tiro certeiro bem no meio da testa de um “porco” descartável que lhe atrapalhava os negócios, e ainda assim sair rapidamente, enquanto as pessoas abismadas olhavam sem entender o que acontecia. Exatamente como fiz no restaurante. Só fiquei triste por não ter comido o camarão, eu estava realmente com fome.
A fumaça do Havana 1967 já se espalhava por cima de nossos pratos. O Camarão à Sapiranga, tão famoso e respeitado pelos críticos gastronômicos da cidade, ia esfriando, enquanto Pereira Gusmão falava e expunha toda a sua ignorância disfarçada pelo requinte de suas roupas e trejeitos absorvidos com o contato com pessoas educadas, que só os glutões com rápida ascensão social conseguem ter.
_ Nem mesmo uma mulher pode tirar o prazer de comer, beber e fumar de um homem.
Ao lado de Pereira Gusmão, eu me sentia melhor do que realmente era. Eu achava que se tivesse todo o dinheiro que ele tinha, com certeza aproveitaria melhor e teria mais classe. O terno Armani que vestia, acredito que não foi feito para pessoas gordas como ele. Já vi muitos gordos elegantes e bem vestidos, mas ele não tinha essa característica, apesar de como disse suas roupas terem muito requinte. Outra coisa que me enojava nele era sua careca que não parava de ficar luminosa com o suor insistente, o lenço que usava para se secar com certeza deveria feder. E ah, como eu odiava o jeito que ela falava das mulheres.
_ Mas chega de falarmos de prazeres mundanos, vamos aos negócios.
Enquanto Pereira Gusmão falava, eu comecei a pensar em como cheguei até ali: eu era policial. Nunca fiz nada demais, na verdade não gostava muito do meu trabalho. Para mim o limite entre ser mocinho e bandido sempre foi uma linha muita tênue. O fiel da balança sempre foi a arma, você é reconhecido pelo que faz com ela. E nunca tive muito claro qual a diferença entre o assaltante de esquina e eu. Por isso acho que me desliguei da corporação. Fiquei alguns meses vivendo de biscates, até um conhecido me indicar para um famoso industrial. E o tal industrial me adorou.
O senhor Marco Albuquerque não me admirava por eu ser letrado, ou por ter um tino comercial brilhante. Para ele a característica que eu possuía que mais lhe era útil, era como eu podia sacar rápido uma pistola e dar um tiro certeiro bem no meio da testa de um “porco” descartável que lhe atrapalhava os negócios, e ainda assim sair rapidamente, enquanto as pessoas abismadas olhavam sem entender o que acontecia. Exatamente como fiz no restaurante. Só fiquei triste por não ter comido o camarão, eu estava realmente com fome.
sábado, 31 de outubro de 2009
Resquícios do Carnaval
Alegria, dança, sorrisos, corpos suados, sensualidade, alucinógenos, êxtase, Carnaval.
O sereno típico da manhã fizera com que ela sentisse frio e se enrolasse nos cobertores, igual quando tinha 10 anos de idade, mas já passara 10 anos e naquela época ela não pulava Carnaval. Quando acordava pela manhã não sentia ânsia e nem a inquietação do pós-alucinação, tudo era paz e ela conseguia dormir novamente ao perceber que ainda era cedo. Mas com os ecos e zunidos na sua cabeça era impossível descansar, e festa não existia mais, o que fazer? Ficar sentada na cama, com os olhos vidrados na TV desligada, tentando lembrar quem era o cara ao seu lado.
O sereno típico da manhã fizera com que ela sentisse frio e se enrolasse nos cobertores, igual quando tinha 10 anos de idade, mas já passara 10 anos e naquela época ela não pulava Carnaval. Quando acordava pela manhã não sentia ânsia e nem a inquietação do pós-alucinação, tudo era paz e ela conseguia dormir novamente ao perceber que ainda era cedo. Mas com os ecos e zunidos na sua cabeça era impossível descansar, e festa não existia mais, o que fazer? Ficar sentada na cama, com os olhos vidrados na TV desligada, tentando lembrar quem era o cara ao seu lado.
Sala de Espera
Poderia estar sonhando agora, seria mais fácil, por exemplo, eu saberia cantar muito bem, e quando ela saísse do portão de desembarque, eu cantaria umas das muitas músicas que considero terem sido feitas para nós. Bom, no meu sonho, eu teria certeza que ela sairia do portão de desembarque.
Nunca reparei no silêncio, como ele incomoda, não que o saguão de um aeroporto seja muito calmo, mas eu não consigo escutar nada além dos batimentos secos do meu coração de ritmo confuso.
De nada adiantou os pensamentos, as emoções, tardes, noites. Tive 5 anos para me preparar para este momento e de nada adiantou. Só a voz dela pode quebrar esse ensurdecedor silêncio.
A hora passou, vôos pousaram e decolaram, e eu fui pra casa, escutando o melancólico ruídos de buzinas do trânsito mudo da metrópole.
Nunca reparei no silêncio, como ele incomoda, não que o saguão de um aeroporto seja muito calmo, mas eu não consigo escutar nada além dos batimentos secos do meu coração de ritmo confuso.
De nada adiantou os pensamentos, as emoções, tardes, noites. Tive 5 anos para me preparar para este momento e de nada adiantou. Só a voz dela pode quebrar esse ensurdecedor silêncio.
A hora passou, vôos pousaram e decolaram, e eu fui pra casa, escutando o melancólico ruídos de buzinas do trânsito mudo da metrópole.
Eu tive um sonho...
Eu tive um sonho
desses que perturbam o dia inteiro,
nada havia mudado:
proximidade, carinhos, beijos.
Depois de acordar uma sensação gélida:
percebi que algo me faltava,
o sonho não aconteceria
e eu fiquei me lamentando,
o destino, os acontecimentos,
como é difícil encarar a realidade.
Agora eu sei o porquê
do meu mural ficar sem fotos
e limitá-lo a um simples quadro azul na parede,
medo de lembranças é a pior fobia
que se pode ter.
desses que perturbam o dia inteiro,
nada havia mudado:
proximidade, carinhos, beijos.
Depois de acordar uma sensação gélida:
percebi que algo me faltava,
o sonho não aconteceria
e eu fiquei me lamentando,
o destino, os acontecimentos,
como é difícil encarar a realidade.
Agora eu sei o porquê
do meu mural ficar sem fotos
e limitá-lo a um simples quadro azul na parede,
medo de lembranças é a pior fobia
que se pode ter.
Dois Mundos
Caminho do céu ao inferno
Em uma velocidade estrondosa
Uma notícia,
Um esquecimento,
Um cumprimento,
Com muito pouco meu sentido muda.
Eu conheço esse outro mundo
Onde delírio e realidade se misturam
Onde o que se quer não é acessível.
Te amo tanto e tanto
Que não me conheço de outra forma,
Aliás não sei ser diferente:
Amar incondicionalmente.
Eu sempre te conquisto,
Mas você sempre some
E assim eu vou transitando entre dois mundos
Te buscando mais e mais
Esperando o fim do tormento.
Em uma velocidade estrondosa
Uma notícia,
Um esquecimento,
Um cumprimento,
Com muito pouco meu sentido muda.
Eu conheço esse outro mundo
Onde delírio e realidade se misturam
Onde o que se quer não é acessível.
Te amo tanto e tanto
Que não me conheço de outra forma,
Aliás não sei ser diferente:
Amar incondicionalmente.
Eu sempre te conquisto,
Mas você sempre some
E assim eu vou transitando entre dois mundos
Te buscando mais e mais
Esperando o fim do tormento.
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